Contemplamento

Estava eu
Com os olhos
Quietos no chão.
Partiu algo dali
De baixo a cima.
Era azul como o céu
Um passarinho.
Voou tão bonito
Com uma palha
No bico
Que tirou
Os meus olhos
Do lugar onde
Estavam.
Fez voltas
Em torno
Do meu coração.

O mundo saltou de pára-quedas.

Apesar desse deserto
O sol continua a brilhar.
Nós seguimos ao mar.
Somos rios eternos
Caminhando no etéreo
Dessas estradas sem teto.
Alguns já sabem
E outros pelejam
Para descobrir
Onde é o fim da dor.
Mas todos caminham.
Molhei a vida
E ela me sorriu.
Sou ser passarinho
Já nasci cantador dizendo:
Onde está o meu amor
Onde está o meu amor.

Em um mundo de gente

Cabe é muita gente, viu? 

O vazio de Nina

O vazio grita em mim:
Nina se foi.
Mas o pedaço que é
Fica cantando
Como um eterno parto.
Mas Nina se foi.
Despetalou
Me deixou
Se curvou
Ao vento
E voou.
Só que aqui está
Um pedaço dela
Que nunca me deixará.
Quem nasce uma vez
Dentro da gente
Passa a nos existir.

Ganha o mundo passarinho.

Coragem: pula do ninho

Fomos feitos para voar

Cantando ao sol e ao luar. 

Melodias jogadas no vento

Semeiam flores na terra. 

Você não cairá

Pois Deus nos segura

Nas suas mãos firmes.  

Mas tudo tem seu tempo

Não desespera, toma tento.

Cria raízes fortes

Para ter por onde voltar

A nossa casa é linda

A nossa essência voar

Buscando árvores 

E cultivando ninhos 

Que serão luz

Para outros passarinhos
Que venham a cantar. 

Mãe me formei em arquitetura. Sou arquiteto das palavras.

Dorme pequena flor.
Vive o seu belo sono
No castelo de barro
Que Deus inventou.

Já aprendi a cantar
Com os passarinhos da estrada
E a caminhar sem sapatos.
O meu coração
Segue as curvas
Do rio da vida.
No caminho ficaram pegadas
E logo estarei ao seu lado
Assoviando uma canção de amor.
Vim avisar que já sigo
E que vamos chegar vivos
Nós não somos só disso.
Mas vamos jogar os versos
Nas águas e seguir:
Cantar como já aprendemos
E tirar os sapatos.
Apesar desses espinhos
As flores brotam bonitas
No meio do mato
À beira da estrada.
E estamos vivos.
E estamos juntos
Seguimos juntos, meu amigo.

A água me trouxe até aqui: corri monte e desci fonte.

O poeta

Diante de uma palavra simples,
A enfeita de mundo.

Continuam passarinhos em torno do meu coração a voar. Voar e a cantar, que é para nos alegrar. Voam e cantam o que há de cantar. Voam e cantam, sim, que eis a felicidade, vem nos visitar. Que eis a felicidade, vem em nossa porta e bate.

É preciso na guerra
Buscar a paz.
O coração não erra.

A minha casa me cabe.

Água que desce serra
Iluminando a terra
Com a sua grandeza
Vem pelo monte
Me trás da fonte
Para o mundo
Dos homens
Famintos por Deus.

O coração as vezes dá um passo

Que a cabeça pode não entender

Mas tudo que eu faço é caminho

Todo respingo é viver. 

A água correu

Nas minhas veias.
Trazendo do mar
Uma grandeza
Que não coube
Em mim.
Então eu cantei.

Somos eternos, irmãos.

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Existem segredos
Que eu quero desvendar.