sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Outro dia eu estava caminhando
Pelas ruas de um lugar diferente
No instante que me apareceu o rio.
Ele caminhava também, mas parou
E nos saudamos com os olhos.
Éramos muito nossos para fingir
Que não nos conhecíamos.

Pedi licença então, e devagar
Sem tirar os olhos dos olhos
Sentei nas pedras a margem dele.
Perguntei para onde ele corria.
Mal veio a primeira resposta
Num impulso de ousadia
Fiz a segunda pergunta:
Para onde você vai, pode me levar?

Ele, que já estava parado em mim
Me olhou mais profundamente
E perguntou, na sua língua de rio:
Se há lugar para você onde eu vou,
Há para mim lugar em você?
Sou grande, sabe? Grande
E não sei parar grandes instantes.
Nunca soube.
Para acompanhar-se de um rio
Você deve ter coração espaçoso
E deve também ser corajoso.

Sinceramente, continuou ele,
Sei onde vou chegar
Mas não sei por onde vou.
Nunca sei os meus passos.
Passo por caminhos pedregosos
Caio em corredeiras
Correntezas me arrastam.
Me seguir não é muito fácil.
Mas há também as belezas:
Muralhas antigas, árvores
Com quem converso.
Lugares únicos, por onde passo
Mulheres e homens belos
Que vem para mim cantar.
No mundo todo eu vou.

Respondi com essas palavras:
Não sei se amanhã de manhã
Quando o sol nascer mais um dia
Estarei aqui novamente.
Sou como o vibrar de um sino
Jogado nas águas.
Temos um fluir que se parece.
Desejo correr contigo
Desbravar matas, subir montes.
Passar algumas pedras é natural
A quem entregar o coração.

O rio então abriu seu leito
Como uma mãe
Que logo após o parto
Recebe o filho com tanto amor.
E eu deitei. Dormi ali,
Como aquele menino
Um pequeno príncipe
Filho daquela rainha
Que correria o mundo
Daquele dia em diante,
Levando-me consigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O mundo é nosso e vamos que vamos.